terça-feira, 24 de maio de 2011

Balanço da época: o que mudou

As duas primeiras coisas que me ocorrem quando tento comparar a época passada com a que agora terminou são sempre as mesmas: João Moutinho e André Villas Boas. Ocorre-me também que passamos muitos jogos sem Hulk (e sem o Sapunaru), mas a verdade é que quando deixamos de poder contar com o Incrível o Porto já tinha sido derrotado na Luz e estava atrás do SLB na classificação.

Moutinho foi a peça que faltava no 11, para compensar um Meireles sem motivação para dar o que podia à equipa e ser o elo de ligação entre um ataque de grande qualidade e uma defesa que, apesar do sucesso da equipa, não é definitivamente o ponto mais forte do FCP. Porque se é verdade que Falcao e Hulk têm lugar no 11 da maioria das superpotências futebolísticas da Europa, nenhum dos nossos defesas pode, num futuro imediato, aspirar a fazê-lo.

Rolando e Otamendi são muito bons, mas não têm (ainda) a qualidade, a capacidade ou o nível de impacto de um Ricardo Carvalho ou de um Pepe - aliás, um Bruno Alves com a cabeça no lugar era melhor do que qualquer dos nossos actuais centrais . Quanto aos nossos laterais, o único que reputaria de "muito bom" é o Álvaro Pereira, que tem mostrado bem mais do que eu augurava. Mas Fucile e Sapunaru, tendo os seus pontos fortes e os seus momentos bons, não são jogadores decisivos e falham demasiadas vezes. Quanto ao Maicon, a minha esperança de o ver ultrapassar a fase "Pepe, o suicída" está a morrer - oxalá me engane. Falta referir alguém que faz parte do conjunto defensivo, apesar de nesta época ter andado assiduamente por terrenos mais adiantados: Fernando. O brasileiro é um dos que foram predominantemente "muito bons", que conseguiram ser extraordinários em alguns jogos e apenas medianos noutros. Na minha opinião, mesmo antes das suas inequívocas declarações no final do jogo do Jamor, é aquele que precisa efectivamente de mudar de ares, quase tanto quanto o precisavam o Bruno Alves e Raúl Meireles. A motivação para jogar no FCP, seja por questões salariais seja por razões de outra índole, já só surge a espaços. Nos intervalos disso ocorrem asneiras como a da final de Dublin, que poderia ter tido um custo enorme.

Por fim, AVB. Poder-se-ia estabelecer como diferença essencial entre o experiente Jesualdo e o jovem Villas-Boas a coragem ou o arrojo. Mas aquilo que salta à vista é a diferença na ambição. AVB quer ganhar tudo, ainda que tenha a noção de que vencer a Liga Europa é tão difícil como chegar aos quartos de final da Champions, avisando os adeptos que é preciso ter calma com as euforias. Jesualdo entrava derrotado ou com medo de perder em todos os grandes confrontos, dentro e fora de Portugal. Ou, como exemplo, AVB nunca jogaria em Londres, contra o Arsenal, com um plano que incluísse um terceiro central a fazer de médio defensivo, sobretudo se este nunca tivesse alinhado naquela posição. Jesualdo jogava em função do seu adversário. AVB adapta a equipa sem lhe incutir medo. E, além disso, AVB consegue estabelecer uma relação de respeito e proximidade que a distância e o ar sisudo de Jesualdo nunca permitiram. AVB fez do Bellushi um médio trabalhador, daqueles que fazem muitas recuperações de bola por jogo. Jesualdo nunca tirou partido do pequeno Samurai porque viu nele uma vedeta sem capacidade de sacrifício ou disciplina táctica. Do exemplo Guarin nem vale a pena falar: entre a inépcia que sempre demonstrou na posição 6, onde era recorrentemente colocado na era Jesualdo, até ao brilhantismo e capacidade de decidir jogos que reconhecemos nele no último terço deste campeonato, vai uma distância enorme. A distância entre um treinador que já é extraordinário e um treinador que nunca o foi.

5 comentários:

Ribeiro DeepBlue disse...

Concordo em absoluto com a posta.
Moutinho e AVB, foi isso que fez a diferença.
Isso, e um Hulk com fome de bola, graças à filha da putice que lhe fizeram

Ribeiro DeepBlue disse...

O Rui Gomes da Silva diz que ainda está a preparar a queixa.
Eu diria que deve sair a seguir à vitória do Porto na Supertaça em Agosto.
Ele tem tudo a favor dele.
A agressão foi num local público, em pleno dia.

Imaginem se tivesse sido num local remoto, escuro, sem a presença de câmaras da RTP.
Como um aeroporto, por exemplo...

Nesse caso, a agressão nunca poderia ter consequências...

André Pinto disse...

Pôncio, nem mais. O teu balanço é perfeito. Destacava o que escreves sobre a assimetria de qualidade entre ataque e defesa, que é mascarada pela qualidade de um meio-campo demolidor e de uma táctica que exige muito trabalho defensivo aos jogadores da frente. Para se bater de igual para igual com os colossos europeus, ao FCP só faltam um central e um lateral direito de elevado nível.


Acho piada à tentativa de colocar pressão no nosso plantel, por parte dos pasquins nacionais. Quando o Benfica precisa de vender, surgem logo notícias de que o Manchester quer comprar todo o plantel, se for preciso. Quando o FCP tem uma equipa temível a manter, com péssimas perpectivas benfiquistas para a próxima temporada, logo se juntam os panfletos para agigantarem rumores e interesses.

Agora é o Atlético de Madrid que quer levar de uma assentada - vejam só! - Hulk e Falcão. Um clube que atravessa problemas financeiros consideráveis. O curioso é os paquins nacionais estarem, aparentemente, melhor informados que os congéneres espanhóis. Sim, porque se formos ler as notícias do Marca ou do As (afecto ao Atlético), não há a menor referência a FCP, ou a jogadores do nosso clube. E assim se fabricam interesses que não existe e se tenta favorecer determinado clube da capital, que este ano não pode fazer grandes contratações.

José Borregana disse...

Rui Gomes da Silva é um fair divers. Levou da cara de uns energúmenos, mas também só um energúmeno para querer associar isso à instituição FCP. Ou seja que qualquer crime na cidade do Porto é da autoria do FCP?

António Soares disse...

Viva,

concordo com o balanço mas não posso concordar com a ultima frase.

"A distância entre um treinador que já é extraordinário e um treinador que nunca o foi."

De facto, Jesualdo não é extraordinário, mas nós portistas não podemos ser injustos para quem nos deu tanto em momentos muito complicados.

Estrategicamente, ou não, a administração deixou sempre Jesualdo sozinho, com a necessidade de fazer (bem) o seu trabalho e ser ele a única voz a defender o clube de todos os ataques que a CS lisboeta nos brindava diariamente.

Não havia na altura comunicados mortais como temos hoje. Não tínhamos entrevistas do nosso grande presidente, como temos hoje. Não havia inaugurações para mandar-mos os nossos bitaites. Tínhamos o presidente a cumprir um castigo ilegal e demorado.

André será um dia, quando sair da cadeira de sonho, um génio, tal como Mourinho que hoje é bajulado porque quem o tão mal o tratou enquanto esteve connosco. Mas não precisamos de ser nós a bater em quem tanto nos deu só porque já não está connosco. Não é assim que tratamos os nossos.

De resto e como disse antes, o balanço está muito bom...

Um abraço de uma cor só: azul-e-branco! :)