O meu post de ontem desencadeou uma verdadeira onda de emoções na caixa de comentários deste blog. É bom, porque isso significa que alguém lê o que aqui escrevemos. É ainda melhor quando se debate com argumentos e com graça. Mas não havia necessidade de criar uma suposta cisão entre portistas.
Por tudo isto, em primeiro lugar, cumpre-me dizer que eu não me levo suficientemente a sério para dar importância aos menos recatados e aos comentários mais inflamados. Gosto de conversar sobre "bola", confesso-me um portista extremo, na fronteira do anti-benfiquismo primário, mas o que aprecio mesmo neste blog é partilhar a minha paixão pelo FCP com gente bem humorada. Discordando ou não, é para esses que escrevo. E são esses que escrevem os comentários que me fazem sorrir.
Em segundo lugar, não tenho como ambição ser coerente, nem sequer
demasiado lúcido nas minhas apreciações. Se eu fosse lúcido na forma como analiso o que se passa no futebol, chegaria à conclusão que existem milhares de coisas mais importantes para investir o meu tempo. Paixão é isto: gostar sem saber bem porquê; dedicar tempo, emocionar-se e sofrer sem tentar racionalizar os sentimentos. A única forma de expressão proibida para esta paixão é a violência.
Terceiro e último: renegando tudo o que escrevi acima e sem ambição de ser exaustivo nesta resposta, vou demonstrar que não estava com os copos quando escrevi o post de ontem.
Tópico 1
O V. Pereira foi injustamente comparado com o P. Fonseca
É verdade - VP está uns furos acima do PF. Apesar do futebol dos rodriguinhos à Barcelona e da posse sem remates nem golos, as equipas do VP jogavam à bola, controlavam os jogos. Concedo também que herdou um balneário complicado, com muita gente a pensar numa saída milionária à maneira do AVB. Mas que tinha melhores jogadores ao seu dispor, isso parece-me indesmentível. Moutinho valia (e vale) mais do que os nossos atuais médios todos juntos. O "pouco" que o James fez na última época de azul e branco (12 golos em 38 jogos) é mais do que, presumo, o Quintero poderá algum dia fazer. Hulk esteve cá a primeira época do VP (e marcou uns modestos 21 golos). E, essa ninguém me tira da cabeça, os dois campeonatos foram muito mais perdidos pela soberba e incompetência alheia do que por mérito próprio (que, obviamente, também existiu). Resumindo: prefiro, de longe, o Pereira ao Fonseca, mas nenhum me agrada particularmente.
Tópico 2
O Fernandez fez história e eu não lhe reconheço esse mérito
Este simpático espanhol chegou ao Porto na primeira época pós-Mourinho, pós-Deco e, sobretudo, pós-vitória na Champions. A tarefa era complicada, a equipa tinha alguns jogadores contrariados (Costinha, Maniche, Derlei, etc., etc.) e muitas promessas de craques por confirmar (Luís Fabiano, Diego, Seitaridis e Quaresma, por exemplo). A realidade confirmou que Fernandez era um líder fraco, que conseguiu a proeza de em 19 jogos para o campeonato vencer menos de metade e perder 3.
Quanto à vitória na Taça Intercontinental, tenham lá paciência mas o Once Caldas, que teve obviamente o mérito de ganhar a Libertadores, era tudo menos uma equipa com enorme potencial e repleta de homens em vias de dar o grande salto para os grandes clubes europeus. A realidade é bem diferente e os poucos jogadores que vagamente se aproximaram de uma carreira minimamente notável no velho continente foram o Elkin Soto (fez 8 épocas no Mainz 05), o Viáfara (que jogou no Portsmouth e no Southampton) e o avançado mexicano Di Nigris, que passou sem grande sucesso pelo Villareal, aterrou no Poli Ejido (um clube espanhol extinto em 2012 que acabou a tal época em 17.º lugar... da Segunda Divisão) e fez 4 temporadas em clubes de terceiro plano na Turquia. Ou seja, é evidente que este Once Caldas que, sublinho, caiu apenas nas grandes penalidades, não era propriamente um viveiro de craques a despontar. Conclusão: o Fernandez não merece grande crédito pela façanha.
Tópico 3
O PdC já nos deu muito e este gajo está a culpá-lo
Como qualquer portista que tenha memória, eu sei que existe um antes do PdC e existirá um depois do PdC. No intervalo desses dois períodos, que tenho o grato prazer de viver, o nosso clube ganhou tudo o que havia para ganhar, ascendeu à posição de maior clube português, "descobriu" e "fez" jogadores que ficarão na história do futebol mundial, em suma, Pinto da Costa foi o responsável máximo pelo brilhante período em que o FCP se tornou o que hoje é como instituição desportiva.
Não obstante, o homem não é infalível, tem tendência para se rodear de gente pouco recomendável e de, explícita ou implicitamente, permitir a realização de negócios que são, no mínimo, de benefício muito duvidoso para o clube. E, já agora, é um gestor profissional - recebe muito bem pela função que exerce, pelo que não trabalha na SAD do FCP por mera carolice.
Isto significa que, quando "mete o pé na argola" ou tenta atirar areia para os olhos dos adeptos isso deve ser denunciado. Para lá da muito discutível escolha do Fonseca (e da sua obstinada defesa), por exemplo, a recente entrevista à Porto Canal em que atribuiu a derrota na Luz à arbitragem foi simplesmente anedótica. PdC merece reconhecimento, mas nem ele nem ninguém merece um estatuto de impunidade.
Tópico 4
O Fonseca deveria ficar até ao final: mudar agora é um erro
Como alguém referiu nos comentários ao meu post, o futebol praticado é pior do que os resultados obtidos e o Estádio do Dragão tende para estar às moscas. Se acharem isto aceitável, deixem o o homem continuar mas eu vou tratar de cancelar a minha subscrição da SportTV e arranjar sempre programa para as horas em que o Porto estiver a jogar. Mas, mais do que insistir no mau futebol e permitir a vitória total dos coisinhos, manter o Fonseca ao leme é desperdiçar a oportunidade de, perdido o campeonato, colocar em campo os Quinteros, os Kelvins e mais alguns miúdos da equipa B. Para que entre em campo alguém com coisas a provar e se perceba se servem ou não, para que se decida se vale a pena apostar neles no futuro ou despachá-los já no próximo Verão.