As duas primeiras coisas que me ocorrem quando tento comparar a época passada com a que agora terminou são sempre as mesmas: João Moutinho e André Villas Boas. Ocorre-me também que passamos muitos jogos sem Hulk (e sem o Sapunaru), mas a verdade é que quando deixamos de poder contar com o Incrível o Porto já tinha sido derrotado na Luz e estava atrás do SLB na classificação.
Moutinho foi a peça que faltava no 11, para compensar um Meireles sem motivação para dar o que podia à equipa e ser o elo de ligação entre um ataque de grande qualidade e uma defesa que, apesar do sucesso da equipa, não é definitivamente o ponto mais forte do FCP. Porque se é verdade que Falcao e Hulk têm lugar no 11 da maioria das superpotências futebolísticas da Europa, nenhum dos nossos defesas pode, num futuro imediato, aspirar a fazê-lo.
Rolando e Otamendi são muito bons, mas não têm (ainda) a qualidade, a capacidade ou o nível de impacto de um Ricardo Carvalho ou de um Pepe - aliás, um Bruno Alves c
om a cabeça no lugar era melhor do que qualquer dos nossos actuais centrais . Quanto aos nossos laterais, o único que reputaria de "muito bom" é o Álvaro Pereira, que tem mostrado bem mais do que eu augurava. Mas Fucile e Sapunaru, tendo os seus pontos fortes e os seus momentos bons, não são jogadores decisivos e falham demasiadas vezes. Quanto ao Maicon, a minha esperança de o ver ultrapassar a fase "Pepe, o suicída" está a morrer - oxalá me engane. Falta referir alguém que faz parte do conjunto defensivo, apesar de nesta época ter andado assiduamente por terrenos mais adiantados: Fernando. O brasileiro é um dos que foram predominantemente "muito bons", que conseguiram ser extraordinários em alguns jogos e apenas medianos noutros. Na minha opinião, mesmo antes das suas inequívocas declarações no final do jogo do Jamor, é aquele que precisa efectivamente de mudar de ares, quase tanto quanto o precisavam o Bruno Alves e Raúl Meireles. A motivação para jogar no FCP, seja por questões salariais seja por razões de outra índole, já só surge a espaços. Nos intervalos disso ocorrem asneiras como a da final de Dublin, que poderia ter tido um custo enorme.
Por fim, AVB. Poder-se-ia estabelecer como diferença essencial entre o experiente Jesualdo e o jovem Villas-Boas a coragem ou o arrojo. Mas aquilo que salta à vista é a diferença na ambição. AVB quer ganhar tudo, ainda que tenha a noção de que vencer a Liga Europa é tão difícil como chegar aos quartos de final da Champions, avisando os adeptos que é preciso ter calma com as euforias. Jesualdo entrava derrotado ou com medo de perder em todos os grandes confrontos, dentro e fora de Portugal. Ou, como exemplo, AVB nunca jogaria em Londres, contra o Arsenal, com um plano que incluísse um terceiro central a fazer de médio defensivo, sobretudo se este nunca tivesse alinhado naquela posição. Jesualdo jogava em função do seu adversário. AVB adapta a equipa sem lhe incutir medo. E, além disso, AVB consegue estabelecer uma relação de respeito e proximidade que a distância e o ar sisudo de Jesualdo nunca permitiram. AVB fez do Bellushi um médio trabalhador, daqueles que fazem muitas recuperações de bola por jogo. Jesualdo nunca tirou partido do pequeno Samurai porque viu nele uma vedeta sem capacidade de sacrifício ou disciplina táctica. Do exemplo Guarin nem vale a pena falar: entre a inépcia que sempre demonstrou na posição 6, onde era recorrentemente colocado na era Jesualdo, até ao brilhantismo e capacidade de decidir jogos que reconhecemos nele no último terço deste campeonato, vai uma distância enorme. A distância entre um treinador que já é extraordinário e um treinador que nunca o foi.