sexta-feira, 29 de junho de 2012

Parabéns a nós


Quem dá o que tem

Ser italiano, hoje, futebolisticamente falando, deve ser uma felicidade imensa. É ver uma seleção, dada como não-favorita, crescer de jogo para jogo, libertar-se do estigma catenaccio, jogar com os olhos na baliza, e eliminar uma das apontadas, à partida, como potencial vencedora da competição. É ter um maestro fantástico, de nome Andrea Pirlo, um conjunto de jogadores à sua volta, de ambição tremenda e, claro, muito talento. Do guarda-redes Buffon ao ponta-de-lança Balotelli.
Contra a Espanha, nós fomos, do ponto de vista defensivo, muito italianos no sentido tradicional do termo. Permitimos "apenas" 57% de posse de bola ao adversário, feito de que poucos se podem vangloriar, e vimo-los a errar muito no meio-campo. Tiveram as suas oportunidades, é certo, mas em número reduzido. Xavi passou ao lado do jogo e Negredo foi uma nulidade. O problema é que - e voltando a comparar com a Itália - não conseguimos ser realmente incisivos no ataque. Faltou-nos assustar uma Espanha de forma contínua e não vivendo apenas dos fogachos que Ronaldo ia acendendo. Ronaldo, que era a real ameaça que os espanhóis temiam. Como se viu, com razão, pois o resto da equipa pareceu nunca conseguir acompanhar o seu ritmo. Foi com naturalidade que, sem ponta-de-lança de nível europeu, com um Nani estranhamente inconsequente, Ronaldo de rastos, o nosso meio-campo se dedicou, no prolongamento, única e exclusivamente a tentar evitar que a Espanha chegasse com perigo à área. Se nos 90 minutos podemos admitir que o jogo foi equilibrado - ainda que as melhores oportunidades tenham sido espanholas - o prolongamento foi um sufoco, com os espanhóis a terem recursos como Navas e Pedro Rodriguez, coisa que não temos no nosso banco.
Ao contrário do que Ronaldo dizia, naquela imagem que se viu após os penaltis, não acho que a nossa eliminação tenha sido uma injustiça. Sejamos realistas: fizemos muito neste Campeonato da Europa, mas fomos até onde as nossas reais capacidades permitiram. Limitados por um "plantel" curto, chegar à meia-final e ser eliminado nos penaltis pela campeã em título não é bom - é excelente. Parabéns, Portugal. Quem dá o que tem a mais não é obrigado.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Euro-apontamentos (3)

Quem disse que um zero-a-zero tem de ser um jogo chato? O Itália-Inglaterra provou o contrário. Sempre em alta rotação, com oportunidades de lado a lado (mais do lado da Itália) e emoção q.b.
A Inglaterra cumpriu o seu papel, que era chegar aos quartos-de-final. Com um Gerrard na curva descendente e dois bons avançados, o grande problema desta Inglaterra, na minha opinião, foi a falta de qualidade nas alas. E, também, a inexistência de um "génio", um maluco tipo Gascoigne, que dê alma a esta equipa.
Eu gosto desta Itália, uma equipa que trai a identidade "deixa-ver-no-que-isto-dá" das seleções transalpinas, mais apostadas, no passado, a jogar no erro do adversário do que em ir à procura da felicidade. Estes italianos são um conjunto de aventureiros que só têm olhos para a baliza, liderados por um senhor chamado Pirlo, capaz da abertura mais genial, do livre direto mais mortífero, do penalti mais desconcertante. Aquela opção de, em desvantagem, marcar "à Panenka" entra na História do futebol e recordá-la-emos para sempre. Ave Pirlo!

domingo, 24 de junho de 2012

Euro-apontamentos (2)

O jogo de ontem demonstrou que não percebo nada de bola. Realmente, só eu para prever uma surpresa da França frente ao Barcelona, desculpem, frente à Espanha.  Este conjunto francês é um je ne sais quoi assim para o mauzinho e seria o adversário ideal para as meias-finais. Apesar de surgirem, todos os anos, candidatos a "próximo Zidane", quer-me parecer que os bleus vão atravessar um longo deserto até aparecer uma geração de jogadores de topo, liderados por uma figura que ponha excelência naquela equipa.
Quanto à Espanha, Paulo Bento vai ter de formatar a nossa defesa para o jogo do adversário, que se apresenta sem ponta-de-lança fixo, num rendilhado futebolístico que não permite a mínima distração. Lembro-me de alguns passes errados em zona perigosa, nos primeiros vinte minutos do jogo com a República Checa, que, se acontecem frente a Busquets, Xavi, Xabi e Iniesta, são a morte do artista.
As notícias da nossa seleção foram preenchidas, nos últimos dias, pela ocorrência entre Miguel Lopes e Quaresma, e pelos estado de saúde do Eusébio. Em relação aos dois jogadores, aquilo foi mais uma maneira que eles encontraram de dizerem que estão no Euro e que também merecem aparecer nos jornais. As fotos dos dois, aos beijos e abraços, que se seguiram provam isso mesmo. Quanto ao Eusébio, obviamente que lhe desejamos as melhoras, mas recomendamos-lhe que, da próxima vez, assista ao jogo de Portugal um pouco mais afastado do Figo.

sábado, 23 de junho de 2012

Euro-apontamentos (1)

Continuo a dizer que há, neste Campeonato da Europa, um desequilíbrio de forças entre seleções como já não se via há muito tempo. Depois de, no dia de ontem, termos assistido a um domínio acentuado, e para mim algo inesperado, de Portugal sobre a República Checa, hoje foi a vez de vermos uma seleção alemã a sufocar uns gregos que fizeram o que puderam. E muito fizeram, chegando a conseguir o impensável empate, já na segunda parte, o que prova que em futebol as favas nunca estão contadas. A Alemanha demorou apenas cinco minutos a voltar a marcar e a decidir resolver o jogo de forma fácil e prática. E treinador ainda se deu ao luxo de poupar alguns titulares. Quanto a Fernando Santos, sai deste Europeu de cabeça levantada e com o dever cumprido. De facto, não se exigia mais a uma geração de futebol grego com falta de talentos acima da média.
Creio que amanhã, o Espanha-França é capaz de trazer alguma surpresa na manga. A ver vamos, mas aquela malta nova francesa, apesar de não ter mostrado muita qualidade na fase de grupos, pode pôr em sentido o tiki-taka espanhol. Por acaso tinha piada.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Nas asas de Ronaldo e no cérebro de Moutinho

Aí estamos nós nas meias, depois de um jogo que, na segunda parte, só teve um sentido. O resultado é escasso face à diferença de qualidade entre as duas seleções e a mim, pessoalmente, surpreende-me como é que a República Checa chega a uns quartos-de-final de uma competição destas. Eu sei que tiveram a sorte de calhar no grupo mais acessível de todos, mas se olharmos para este campeonato, vemos umas três ou quatro seleções de nível médio-baixo que, no passado, não encontraríamos. Estará o futebol europeu, a nível de seleções, a sofrer também uma crise?
O jogo de ontem só teve um sentido na segunda parte porque, na primeira, as equipas resolveram prolongar a chamada "fase de estudo" por 45 minutos. Os checos aproximavam-se da nossa área, ganhavam cantos, mas não rematavam. Nós tentávamos os lançamentos longos dos centrais para as alas porque, pelo chão, falhávamos muitos passes.
Na segunda parte, aquilo foi um massacre. Com os laterais a apoiar o ataque como tão bem sabem fazer, João Moutinho a pegar na batuta, e Hugo Almeida a estorvar tudo o que se metesse à frente (como tão bem sabe fazer), a música foi outra, o carrossel perfeito para Ronaldo e Nani semearem o pânico naquela defesa que não sabia para onde se virar.
Ronaldo foi o homem do jogo e, logo a seguir, João Moutinho, que fez jogar toda a equipa, correu, passou, rematou, abriu, foi o motor, o radar, e tudo com uma precisão fantástica. A propósito do pequeno grande médio do FC Porto, acho que tem havido uma certa resistência por parte de uma certa comunicação social em fazer o elogio à sua prestação. Parece que há ali qualquer coisa que ainda não os convenceu. O que será?

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Está no papo

O pior que nos pode acontecer para amanhã é colarem-nos o rótulo de favoritos. Damo-nos mal com esse estatuto, como a final do Euro contra a Grécia foi exemplo. Dito isto, acho que vamos passar porque temos o melhor central da Europa, um dos melhores médios da Europa e o melhor avançado da Europa. E o Nélson Oliveira, claro.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Azedumes desnecessários

Começando pelo mais triste, lamento profundamente a atitude dos jogadores ao se recusarem a prestar declarações para a imprensa, alegadamente numa atitude de solidariedade para com Cristiano Ronaldo, que tinha ouvido algumas críticas depois do seu desempenho nos dois primeiros jogos, em especial, depois do jogo contra a Dinamarca. Esta postura, aliada ao tom azedo das declarações de Paulo Bento em grande parte da conferência de imprensa pós-jogo, ensombrou – para não dizer, estragou – o ambiente de festa que se viveu.
Dando de barato a injustiça de uma ou outra crítica, não consigo admitir que esta malta, que joga tanto à bola e tem as contas bancárias tão bem recheadas, não tenha poder de encaixe para ouvir o que não gosta e reaja retaliando desta forma.
Quanto ao jogo, foi muito bom. Ronaldo jogou como se tivesse 18 anos, como se um qualquer Alex Ferguson estivesse na bancada a avaliar a sua possível contratação. Outros monstros: João Moutinho, Nani e Pepe. Gostei muito também de Miguel Veloso, João Pereira, Bruno Alves, Coentrão. Rui Patrício sem trabalho. Raul Meireles em modo "low profile". Postiga, inexistente. Mas... temos melhor?

domingo, 17 de junho de 2012

Pobo com "fezada"

Não vi o jogo com a Dinamarca em directo. Vi uma parte significativa mais tarde e isso chegou para reter 2 ou 3 coisas importantes:
  • bastaria ter um Ronaldo com 50% da inspiração habitual para que uma vitória enrascada tivesse sido uma cabazada das antigas;
  • sem um médio que defenda na esquerda, não temos hipótese de suster cruzamentos - o Coentrão tem sido dos melhores mas não faz milagres;
  • talvez fosse boa ideia colocar o Hugo Viana em campo o Meireles abafa (algures entre os 55 e os 70 minutos de jogo).
Resumindo: o Varela esteve bem mas nós já vimos este filme - é um jogador para grandes momentos... infelizmente, nem sempre bons momentos... O 2.º melhor jogador do mundo, a quem agora toda gente exige infalibilidade, não deixou de ser aquilo que sempre foi: um futebolista trabalhador e genial, excelente marcador de livres, super difícil de parar em progressão e senhor de um remate mortífero. Mas também um indivíduo egocêntrico, gajo propenso a dizer parvoíces, a pensar que o mundo circula em seu redor e que acha que Portugal lhe deve alguma coisa só porque se farta de ganhar dinheiro a jogar à bola. Mas lá dentro, no relvado, prefiro apostar o meu dinheiro neste madeirense do que no Drogba da Caparica.
O que me leva a concluir que hoje:
  •  o Ronaldo vai aparecer em grande,
  • o Meireles vai arrancar um meteoro a 40 metros da baliza holandesa,
  • o Pepe vai secar o Huntelaar...
penso eu de que...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pobo sem pachorra

O Pobo tem andado calado sobre o Euro 2012 e sobre as andanças da selecção nacional porque, na realidade, com dezenas de emissões em directo, fóruns e debates, inquéritos e reportagens especiais, fica pouco por dizer... ou talvez não.

Algures entre o bota-abaixismo militante de pessoas como o Vasco Pulido Valente, que casca no nacionalismo exacerbado em épocas de competições futebolísticas, e a gosma do entusiasmo dos discípulos do Nuno Luz, habita algo que não é dito com frequência: que aquilo é uma competição desportiva e que o país tem desafios maiores, que não somos os melhores da Europa no tocante ao pontapé na bola e que a selecção não é culpada pelo circo mediático que a rodeia, para além de valer quase sempre mais do que aquilo que consegue mostrar.

Por uma vez, ainda que por razões erradas (despeito e maus fígados), Manuel José falou o que se impunha: no meio daquele discurso patético do "Ronaldo e mais 10", das romarias aos treinos e da apoteose de quem já venceu a competição sem sequer disputar um jogo estavam todos a esquecer o essencial: focar-se no trabalho de equipa, construir uma entidade, potenciar as qualidades e aprender a esconder as limitações. Não se trata de ser modesto, de baixar as expectativas para transformar uma eventual vitória improvável num feito equiparável à descoberta do Brasil - trata-se de dedicar tempo e atenção ao essencial.

E, claro, trata-se de não mascarar a realidade, de não a torcer à medida dos nossos desejos e do estimular de uma massa adepta que não vê além das capas apologéticas d'ABola e do Record. Neste aspecto, a selecção parece mesmo o Benfica: a mesma basófia, os mesmo resultados...

Exemplo prático: jogamos como cagões contra os alemães. Sim, claro, eles têm uma equipa poderosa, já venceram competições, etc., etc., mas se a história e a teoria vencessem jogos nem valia a pena ter embarcado para a Polónia. Fizemos uma primeira parte à moda da Grécia, mas sem a sorte e felicidade que estes tiveram no Euro 2004. E, como é costume em 90% das vezes que jogamos assim, a suposta injustiça dos golos alheios abateu-se sobre nós. Claro que ajuda perceber que a Alemanha tem um ponta-de-lança de nível mundial enquanto que nós temos dois avançados centro medianos e um projecto promissor. Isto, num jogo em que a vitória não depende da contabilização de bolas na barra, posse de bola ou oportunidades conta muito, não é?

O exemplo acabado de que a necessidade aguça o engenho foi dado depois do golo alemão, porque deixamos de viver na expectativa e passamos a fazer pela vida. Podem dizer que os outros recuaram depois da vantagem mas a verdade é que eram os mesmo 11 que não nos permitiam passar do meio campo com a bola alguns minutos antes. E onde está a diferença? Na atitude. O futebol (também) é um desporto de estados de alma e quem não busca, regra geral, não colhe. E convém não confundir o que os dinamarqueses conseguiram face à Holanda com aquilo que nós fizemos: eles jogaram como equipa, em todo o terreno, com uma desproporção de talento face ao adversário que era incomparavelmente maior do que a que separa Portugal da Alemanha.

Encostados às cordas, como infelizmente se tornou tradição, espero que nos deixemos de messianismos, de aguardar pelo génio do Ronaldo ou do Nani, e que joguemos sem merdas, para a frente. Sem uma vitória no próximo jogo, seguir em frente deixa de ser sequer uma possibilidade remota.

domingo, 3 de junho de 2012

Banho turco

Olhemos para o jogo de ontem como um jogo de pré-época em que o resultado é o que menos importa. Pensemos que daqui a uma semana é que é a sério e que Paulo Bento ainda vai a tempo de criar os automatismos de que Gabriel Alves falava nos seus relatos do antigamente.
Até porque ontem não estivemos assim tão mal como os assobios no final fizeram transparecer. Até acho que jogámos melhor do que no jogo com a Macedónia. A questão é que a Turquia foi de uma eficácia a toda a prova e nós falhámos lá na frente - tanto, já agora, quanto lá atrás, mesmo que o Record nos queira convencer do contrário. É que tão assustador como permitir a antecipação de um avançado, como aconteceu a Coentrão, é talvez falhar um penalti com o nome "Ronaldo" escrito na camisola. Ou então fazer o que Hugo Almeida conseguiu fazer: na cara do redes turco, passar para o lado, em vez de assumir o remate à baliza (se ainda houvesse portistas a lamentar a dispensa do avançado do Besiktas, ontem devem ter ficado convencidos...).
Já agora, e por falar em erros, é engraçado ver como as opiniões se dividem por essa Internet fora e até nos meios de comunicação social sobre quem teve mais responsabilidades no primeiro golo da Turquia. Eu acho que até podemos dividir a coisa tendo por critério a clubite: os adeptos do Benfica acham que a culpa foi do Miguel Lopes, que se deixou comer "tipo-Emerson", e do Bruno Alves (o anti-Rodrigo, que tirou o campeonato ao clube do milhafre), que não comunicou com o Rui Patrício, que, por sua vez, ficou a vê-la passar; os adeptos do Sporting, acham que a culpa é do Miguel Lopes e do Bruno Alves, pelos mesmos motivos dos benfiquistas, mas também do Fábio Coentrão, que se deixou, emPOLGAdamente, antecipar pelo marcador do golo; os adeptos do FC Porto acharão que a culpa é do Fábio Coentrão. Ponto.
Uma coisa parece saltar aos olhos de todos: falta naquele meio-campo um número seis competente, alguém com velocidade e poder de choque para lutar, com capacidade de antecipação e de corte, com precisão no passe para sair a jogar. Sim, adivinharam-me o pensamento: um Fernando, pois claro. Se Miguel Veloso parece ter perdido o capital que tinha para esta posição, será Custódio o homem de que precisamos? Ou a opção poderá ser a de recuar Raul Meireles e abrir vaga no meio-campo para Viana ou Micael? E se a solução passar por Pepe, entrando Rolando para o centro da defesa? Uma série de questões que a que ainda vamos a tempo de dar resposta. Vamos, não vamos, Paulo Bento?