Legenda: eu sei que é uma piada fácil mas fica bem neste post (como resposta à capa do Record de hoje)
"Ái, úi, atirem-me água fria"
Vítor Pereira deve ser o homem mais feliz do mundo esta noite. Para quem tanto asneirou neste campeonato, quem tanto falou o que não deveria ter falado, vencer este jogo terá sido o momento mais alto da sua carreira. Mas os "heróis" são outros: chamam-se Hulk, James e, sobretudo, Maicon.
O essencial: sim, o golo que deu a vitória é precedido de um fora-de-jogo indiscutível. Do mesmo modo que existe um penalty clamoroso, por mão na bola do Cardozo, minutos antes do remate vitorioso do Maicon. E Jorge Jesus não tem razão quando refere que o segundo golo do Porto nasce de uma falta sobre o médio belga do SLB em que Proença terá aplicado a lei da vantagem - a repetição mostra que a falta é sobre o defensor do FCP. Depois da chicla,vai uma Rennie?
Mas como esta semana só se vai falar do fora-de-jogo (o lance do penalty do Cardozo nem sequer teve direito a repetição e muito menos foi alvo de referência por parte dos comentadores), não vou perder mais tempo com o assunto. Vencemos, estamos na frente, esta vitória valia 4 pontos (os 3 do costume mais a vantagem directa) e agora o SLB já não pode vencer o campeonato - só o Porto pode perdê-lo.
As coisas boas
O carácter, a raça, o ímpeto e a crença de
Maicon - apenas
esforçado como defesa direito mas imperial como central. Para além do golo da vitória (ninguém como ele merecia marcá-lo), fica a ideia de que o 1º central do Porto, a voz de comando que faltava naquela defesa, não virá definitivamente de Rolando - o brasileiro ex-Nacional, com percurso "à Pepe", parece imitar o luso-brasileiro, que de "patinho feio e asneirento" se transformou num dos mais brilhantes e valiosos centrais do futebol europeu.
O génio colombiano que chegou a tempo da festa -
James é hoje, muito provavelmente, para além de Moutinho e Fernando, o único jogador indispensável da equipa. Com ele e com a bola colada no seu pé esquerdo, tudo parece tudo fácil. Quando o SLB marcou o segundo golo, pensei que o mais sensato seria retirar de campo "El Comandante" (que fez um jogo intermitente, com pormenores de "Lucho" e ausências em campo que deixaram Moutinho e Fernando entregues às correrias adversárias) e fazer entrar James. Temi que o sacrificado fosse Djalma, que já tinha um amarelo. Mas, nessa altura, VP teve uma epifania - eu já explico porquê.
Hulk não fez muito mas o "pouco "que fez foi simplesmente decisivo - marcou o melhor golo da noite, um daqueles que só ele poderia marcar, e arrancou a expulsão do Emerson, que foi o sopro que acelerou a queda do castelo de cartas que era, nos momentos após o empate a 2, a equipa de Jorge Jesus. Física e animicamente, o Benfica estava quase a sucumbir depois do lance brilhante de James Rodriguez. A expulsão foi quase um knock-out.
As coisas ainda assim boas
O nosso treinador surpreendeu o
mago da chicla ao fazer a equipa jogar como no início da final europeia com o Barcelona - defendendo quase na área adversária, ousadia que foi premiada com o soberbo golo de Hulk. E, mais do que isso, quando toda a gente pensava, como eu, que faria a substituição banalmente óbvia e "cagona" de trocar Djalma por James, o homem excedeu-se e fez aquela que terá sido, muito provavelmente, a mais corajosa e, possivelmente, melhor jogada de banco que já o vimos fazer: retirou de campo o central com mais estatuto (sim, já tinha um amarelo, mas havia mais gente nessas condições) e colocou o angolano a fazer o corredor direito. Simplesmente genial. Mas como tudo que é bom em
Vítor Pereira tem o seu "lado negro", a jogar em vantagem numérica, quando a equipa estava a encostar o Benfica lá atrás com segurança, fez uma substituição à moda do
Championship Manager (Moutinho por Kléber), correndo sérios riscos de "partir a equipa" e, quem sabe, sofrer um golo em contra-ataque. Felizmente para ele e para nós, Maicon resolveu o assunto antes do ponta-de-lança brasileiro sequer tocar na bola.
Fernando e
Moutinho foram 2 dos que estiveram bem sem serem brilhantes. O "Polvo" esteve em todo o lado e até fez a assistência para o segundo golo. Moutinho foi a "cola" do nosso meio-campo quando a lentidão e a falta de frescura física de Lucho, aliadas ao recuo da equipa após o golo inicial, quase ofereceram o meio-campo a Javi Garcia, Aimar, Nolito e Gaitan. Tal como Alvaro Pereira e Djalma, foram essenciais nesta vitória, mas não foram decisivos.
As coisas que não foram nada positivas
Janko ofereceu luta aos centrais do SLB e foi uma referência na frente, mas foram mais as vezes que perdeu os lances disputados no ar com faltas escusadas do que as bolas que ganhou para Lucho dar continuidade ao ataque. Além disso, a responsabilidade do primeiro golo do SLB é do austriaco, que foi lento a sair e colocou em jogo os dois benfiquistas que intervieram no lance. Deveria ter saído no lugar de Moutinho.
A tremideira depois da vantagem inicial: se reparem bem, o Benfica não criou por si mesmo nenhuma oportunidade golo na primeira parte - foram as asneiras da nossa defesa e e aquele recuo imprudente que criaram condições para o SLB marcar.
As coisas que ficam por fazer
As 4 derrotas que o SLB registou nos últimos tempos e as mazelas físicas e psicológicas que aquela equipa tem depois de desbaratar uma vantagem de 5 pontos e perder em casa com o rival depois de ter estado a vencer serão o suficiente para que se crie uma onda muito má em torno de Jorge Jesus. Pior ainda: estão criadas as condições para que a equipa falhe na Champions porque, com o pouco tempo de recuperação e a pressão de ter de vencer que tolherá os movimentos aos jogadores benfiquistas, os russos têm todas as condições para fazer um jogo como o que fizeram no Dragão e saírem por cima.
Mas, no essencial, o que fica por fazer é a nossa parte - não podemos esperar que o SLB tropece sozinho, ainda que tudo indique que isso irá acontecer. Teremos de vencer jogos muito complicados - na Madeira, contra o Nacional e o Marítimo, e em Braga. Se não ganharmos a este Sporting em nossa casa, esta vitória na Luz terá sido apenas um acaso do destino.