domingo, 22 de março de 2015

Foi do Bayern?

O que se passou hoje na Madeira foi uma espécie de soco no estômago. Já levamos anos e décadas a ver futebol e nunca estamos preparados para isto. A nossa equipa em crescendo exibicional nos últimos jogos, com grandes golos, com solidez defensiva. E a afirmar-se em termos europeus. O líder do campeonato perde, e a hipótese de ficarmos a um ponto está já ali ao virar da esquina. E não vamos além de um empate. Terrível desilusão num jogo contra uma equipa que nem pôde contar com três dos seus mais importantes jogadores. Nós, que não pudemos contar com Jackson (e que diferença faz para um Aboubakar esforçado, mas a léguas da qualidade do colombiano), devíamos e podíamos ter feito mais. Muito mais.
O discurso de Lopetegui para o exterior tem de ser aquele mesmo. Destacar a redução da diferença pontual e destacar o facto de, pela primeira vez, dependermos de nós próprios para sermos campeões. Reforçar a ideia de que ainda falta muito campeonato para jogar. O discurso para o interior, porém, tem de ser bem diferente. Pela forma apática como entrámos na segunda parte. Pelo domínio que consentimos ao adversário. Pelos erros de marcação no golo do Nacional e noutras jogadas que poderiam ter sido fatais (é inevitável pensar na incompetência defensiva de Alex Sandro em lances ao segundo poste). Se os coisinhos provaram do veneno de que têm vindo a beneficiar jogos a fio, mostrando, mais uma vez, que não têm qualidade para justificarem uma tão grande diferença de pontos, nós, com este empate, também não transmitimos uma ideia de força, também nos recusámos a marcar uma posição de afirmação. Ao invés, a mensagem que fica é a de falta de fiabilidade. Aquela imagem que em outubro e novembro foi atribuída à tal rotatividade.
Razões para esta entrada apática na segunda parte? Se tivéssemos um treinador português, seria fácil criticar a habitual "gestão do resultado" de que somos pródigos assim que nos encontramos a ganhar. Mas temos um treinador espanhol, ambicioso, habituado a motivar malta jovem com sede de afirmação. O que falhou, então? As bolas nos postes? O penalti sobre o Quaresma? Ou o pensamento já no Bayern de Munique, misturado com a presunção de uma vitória mais ou menos garantida?

5 comentários:

André Pinto disse...

Desta vez pareceu-me uma natural oscilação exibicional, algum cansaço e a reincidência em alguns velhos hábitos. A merda de Alex Sandro não é de hoje. Na minha opinião, sempre atacou bem melhor do que defendeu e os seus problemas tácticos são patentes. Perde a bola em zonas proibidas e recupera mal. Nada de novo nesse aspecto. Mas a equipa pareceu pesada, receosa. Lopetegui tem de gritar com eles, tem de haver porrada da boa naquele balneário. Só um conjunto de guerreiros, ansiando por sangue galináceo poderá chegar à vitória final. E isso vale para todos os jogos. Da próxima rectificamos, estou certo.

eumargotdasilva disse...

Foi do Bayern. Com certeza.
O Brahimi já andava a sonhar com a final, levou um balde de realidade que o deixou de ideias congeladas...
Só o Alex Sandro é que é assim 70% do tempo...
esse sonha mas é com a cama quando está em campo...

Mas, tal como o Bayern, tão cedo não volta a repetir-se...

André Pinto disse...

Epa, precisamos de afirmar que o mister tentou rodar, refrescar, mas asneou. Quintero faz-se saco de batatas em campo, ficamos sem miolo,entregando o comando das operações ao adversário. A entrada de Quaresma pecou por tardia.
Casemiro esteve demasiado tempo no terreno.

O desafio de Lopetegui consiste em manter os níveis físicos e a moral da equipa. Mas tem marcada a ferro na memoria a desgraça que foram as suas rotações iniciais e correspondente desagrado dos adeptos - entre os quais me incluo. Por outro lado, o amadurecimento da equipa não parece ter incluído alguns reservas, como Quintero ou Indy, o que provocará um dramático decréscimo de qualidade sempre que se necessitar dos seus prestamos.

Unknown disse...

Esta equipa teve resultados fomentados por exibições recentes que me fizeram dar a mão à palmatória. Houve de facto uma melhoria substancial na atitude e na qualidade de jogo da equipa. Contudo, neste jogo com o Nacional veio à tona o maior problema do FCP actual. A falta de garra que tanto nos caracterizava. Não duvido que estes jogadores nos grandes jogos dão tudo, mas nos restantes falta um clique competitivo e por isso vamos perder este campeonato. Outras equipas do porto, de outros tempos, até podiam ter perdido, mas veríamos jogadores com os olhos raíados a sangue a disputar cada lance como se fosse o último, a correr para a bola mal esta saísse de campo para a por imediatamente em jogo, a fazer faltas cirúgicas e anti-jogo quando fosse preciso, sempre nos limites. Ainda para mais depois do Benfica ter perdido. Doeu. Duas notas: O Quaresma devia ter entardo logo na segunda parte. O Quintero tarda em afirmar-se.

André Pinto disse...

Caro MT: muito tenho discutido com amigos o caso de Quintero, que considero paradigmático da funda clivagem entre os futebois europeu e sul-americano. Nunca se adaptará, nem nada há que adaptar. É um jogador que, pela sua fisionomia e mentalidade, esta talhado para singrar na América do Sul, mas absolutamente incompatível com o estilo europeu. Note-se que simplesmente se nega a fazer a recuperação defensiva e a melhorar os seus índices físicos. Muitos astros sul-americanos têm essa mentalidade: fazerem depender a sua titularidade, ou mesmo a convocatória, dos seus índices físicos e prestação tática soa-lhes absurdo, quiçá insultuoso. Quintero é um infra-Riquelme, um sub-Recoba. Apenas veremos boas exibições contra equipas muito fracas, com um meio-campo que ocupe mal os espaços, porque só assim aquele pé esquerdo brilhará. Um pouco de pressão e ausência de espaço, Quintero passa a ser um jogador a menos.