segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pobo sem pachorra

O Pobo tem andado calado sobre o Euro 2012 e sobre as andanças da selecção nacional porque, na realidade, com dezenas de emissões em directo, fóruns e debates, inquéritos e reportagens especiais, fica pouco por dizer... ou talvez não.

Algures entre o bota-abaixismo militante de pessoas como o Vasco Pulido Valente, que casca no nacionalismo exacerbado em épocas de competições futebolísticas, e a gosma do entusiasmo dos discípulos do Nuno Luz, habita algo que não é dito com frequência: que aquilo é uma competição desportiva e que o país tem desafios maiores, que não somos os melhores da Europa no tocante ao pontapé na bola e que a selecção não é culpada pelo circo mediático que a rodeia, para além de valer quase sempre mais do que aquilo que consegue mostrar.

Por uma vez, ainda que por razões erradas (despeito e maus fígados), Manuel José falou o que se impunha: no meio daquele discurso patético do "Ronaldo e mais 10", das romarias aos treinos e da apoteose de quem já venceu a competição sem sequer disputar um jogo estavam todos a esquecer o essencial: focar-se no trabalho de equipa, construir uma entidade, potenciar as qualidades e aprender a esconder as limitações. Não se trata de ser modesto, de baixar as expectativas para transformar uma eventual vitória improvável num feito equiparável à descoberta do Brasil - trata-se de dedicar tempo e atenção ao essencial.

E, claro, trata-se de não mascarar a realidade, de não a torcer à medida dos nossos desejos e do estimular de uma massa adepta que não vê além das capas apologéticas d'ABola e do Record. Neste aspecto, a selecção parece mesmo o Benfica: a mesma basófia, os mesmo resultados...

Exemplo prático: jogamos como cagões contra os alemães. Sim, claro, eles têm uma equipa poderosa, já venceram competições, etc., etc., mas se a história e a teoria vencessem jogos nem valia a pena ter embarcado para a Polónia. Fizemos uma primeira parte à moda da Grécia, mas sem a sorte e felicidade que estes tiveram no Euro 2004. E, como é costume em 90% das vezes que jogamos assim, a suposta injustiça dos golos alheios abateu-se sobre nós. Claro que ajuda perceber que a Alemanha tem um ponta-de-lança de nível mundial enquanto que nós temos dois avançados centro medianos e um projecto promissor. Isto, num jogo em que a vitória não depende da contabilização de bolas na barra, posse de bola ou oportunidades conta muito, não é?

O exemplo acabado de que a necessidade aguça o engenho foi dado depois do golo alemão, porque deixamos de viver na expectativa e passamos a fazer pela vida. Podem dizer que os outros recuaram depois da vantagem mas a verdade é que eram os mesmo 11 que não nos permitiam passar do meio campo com a bola alguns minutos antes. E onde está a diferença? Na atitude. O futebol (também) é um desporto de estados de alma e quem não busca, regra geral, não colhe. E convém não confundir o que os dinamarqueses conseguiram face à Holanda com aquilo que nós fizemos: eles jogaram como equipa, em todo o terreno, com uma desproporção de talento face ao adversário que era incomparavelmente maior do que a que separa Portugal da Alemanha.

Encostados às cordas, como infelizmente se tornou tradição, espero que nos deixemos de messianismos, de aguardar pelo génio do Ronaldo ou do Nani, e que joguemos sem merdas, para a frente. Sem uma vitória no próximo jogo, seguir em frente deixa de ser sequer uma possibilidade remota.

5 comentários:

Ribeiro DeepBlue disse...

Pois eu espero que regressem rápido, sem lesões dos jogadores do FCP, que este pais precisa é de trabalhar.

Rui Paiva disse...

Excelente artigo !

Não perca a entrevista exclusiva de Tengarrinha, jogador do Vitória de Setúbal, formado no SLB e FCP, e que já passou pelo Estrela da Amadora, Olhanense e Santa Clara. Revelações inéditas e afirmações bombásticas !!
A não perder em http://contra-ataque1.blogspot.pt/2012/06/entrevista-exclusiva-tengarrinha-do.html
VEJA, COMENTE, E PARTILHE !

Abraço e continuação de um bom trabalho.
contra-ataque1.blogspot.com

André Pinto disse...

Isto http://www.record.xl.pt/Futebol/Nacional/1a_liga/Benfica/interior.aspx?content_id=761491 é que é a questão central.

Costa disse...

PERFEITO!!

Penta disse...

caríssimas(os):

são (no mínimo) uma vergonha as seguintes declarações de José Trindade, diretor do hóquei em patins encOrnado:
« O Benfica esteve acima, montou um plano honesto, justo, trabalhador, competente e derrotou os porcos »

mais uma vez, os responsáveis do 5lb demonstram que não sabem ser dignos nem na derrota e muito menos na vitória.
temos que ser superiores a esta gentinha e controlar a raiva e a indignação que nos assistem.
se nos quisermos demarcar pela positiva e sermos uns dignos e honrados vencidos - pese embora a impugnação do último jogo, junto da FPP - temos que evitar responder na mesma moeda.

somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!

saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II