Calimeros
Esta Liga ainda não terminou (sim, com VP não é garantido que o Porto vença na Madeira ou que não fiquem pontos por ganhar com o Rio Ave e o Sporting) mas os Coisinhos já atiraram a toalha ao chão: ensaiaram a ladainha em Londres e agora é sempre a cantar: "fomos prejudicados", "este jogo fica marcado por decisões que lesaram o Benfica" e o clássico interno "este campeonato fica manchado". A parte irónica deste discurso desculpabilizador é o facto de, tanto em Stamford Bridge como em Alvalade, o SLB ter perdido pela margem mínima em jogos de onde poderia facilmente ter saído goleado.
Vamos então falar de manchas
A memória selectiva destes mal-agradecidos funciona de um modo peculiar e nem é preciso ser exaustivo para o provar: lembram o 3.º golo do Porto na Luz e esquecem, entre outras coisas, a expulsão do Maxi que ficou por fazer mesmo no final do encontro; recordam o penalty que Soares Dias não marcou no 1.º minuto de jogo com o Sporting e varreu-se-lhes das cabecinhas o 2.º penalty que o Garay cometeu na mesma partida; evocam um penalty em Coimbra e esquecem o descarado voo para a piscina do Nolito no Estádio dos Barreiros; alegam dualidade de critérios em Guimarães fazendo vista grossa ao golo do empate marcado em fora-de-jogo com que saíram de Barcelos ou, mais recentemente, a forma vergonhosa como bateram um Paços de Ferreira que acabou com 9 num jogo em que Maxi e Bruno César ficaram inexplicavelmente em campo até ao fim depois de terem cometido inúmeras atrocidades. Aliás, o uruguaio nem sequer deveria ter podido alinhar (se o apito final do juiz da partida da Luz não tivesse deixado impune a agressão a James Rodriguez).
O que se passou para lá da cortina de fumo
Os nossos portaram-se muito bem em Braga. Sim, num jogo muito equilibrado fomos felizes. E essa felicidade tem um nome: chama-se Hulk. E fomos mais equilibrados também: sem Fernando, temia o pior, que era o cenário vivido em Barcelos. Mas, felizmente, uma semana depois de ter dito que o nosso belga não valia metade do que vale o seu compatriota do SLB, o homem decidiu fazer o melhor jogo da época - com a habitual colaboração de Moutinho, este duplo pivot defensivo secou o meio campo do Braga (Mossoró nada produziu, Hugo Viana esteve intermitente e o resto dos "guerreiros do Minho" lutavam muito mas perdiam quase sempre) e ainda teve tempo para atacar.
Esta dupla serviu inclusive para disfarçar mais uma exibição pálida do Lucho, a inconsequência habitual do esforçado Kléber e a inusitada tendência para asneirar do nosso defesa esquerdo uruguaio. Ao intervalo, o Guardabel dizia que estávamos a jogar com 10 e eu respondia-lhe que o 11 "em falta" poderia ser o Álvaro Pereira, o suposto "matador" brasileiro ou até o "missing in action" James Rodriguez. No lado positivo ficaram os dois centrais (Rolando fica bem no banco), a lucidez do Sapunaru depois de injustamente amarelado e, claro, o homem que criou os nossos quatro lances de golo (dois desperdiçados pelo Lucho, um soberbamente defendido pelo Quim e outro que James desperdiçou), marcando na única jogada em que alguém o serviu.
Uns são mais incríveis do que os outros
Na verdade, moralmente falando, o Braga de Leonardo Jardim e Salvador é o vencedor desta Liga: com o
refugo ou as sobras dos ditos "grandes" (Quim, Miguel Lopes, Nuno André Coelho, Hélder Barbosa, Ukra, Alan, Custódio, Hugo Viana, Nuno Gomes e Ruben Amorim), uns brasileiros de segundo plano ou até ilustres desconhecidos, totalizando um investimento 6 ou 7 vezes inferior ao do Porto, conseguiram arrancar uma sequência de vitórias fabulosa e perderam o campeonato na recta final, em dois jogos com adversários directos que, diga-se em abono da verdade, poderiam facilmente ter caído para o seu lado. Não me parece que possam ter, em qualquer dos casos, razões de queixa da arbitragem, mas quando está tudo
por arames, é nos detalhes que as coisas se decidem: uns têm Gaitan outros têm Alan; uns têm um Lima incrivelmente goleador e outros têm o único e verdadeiro incrível Hulk. Em suma, aquela equipa merece todos os elogios e Leonardo Jardim já provou merecer a nossa "cadeira de sonho".
It's not over till it's over
São 4 pontos de vantagem mas espera-nos um caminho estreito até ao título que se adivinha. Ganhar em casa ao Beira-Mar é uma obrigação; vencer fora o Marítimo é um desafio complicado; derrotar o Sporting no Dragão poderá permitir comemorações precoces e, se necessário, faremos a festa em Vila do Conde. Todavia, depois de um empate em casa com uma Académica em profunda crise de confiança e resultados, de mais um falhanço em Paços de Ferreira e das muitas outras atribulações do consulado de Vítor Pereira, não prevejo facilidades. Aliás, prevejo que a ladainha benfiquista coloque os árbitros sob pressão, os dos nossos jogos e os dos deles, resultando naquilo que já sabemos.